Excelentíssimo Senhor Director do Jornal de Angola,
Aceite os meus mais cordiais cumprimentos e os melhores votos de sucesso para si e para o Jornal que tão bem dirige.
Por vezes, coíbo-me de trazer a público questões que têm ou tiveram a ver com a nossa “longa marcha”, por considerar que mais importante do que a nossa trajectória, é a paz que conquistamos, o momento em que estamos e o futuro que pretendemos para os nossos filhos e netos.
Infelizmente, a minha vontade de falar de coisas boas choca algumas vezes com factos e práticas políticas negativas que, pela sua gravidade, não podem deixar de merecer o meu reparo e até a minha mais veemente repulsa.
Definitivamente, o meu compromisso é com a consolidação da paz e o desenvolvimento do nosso país e tudo quanto faço alicerça-se na vontade de contribuir para impedir que aqueles que se dizem democratas mas que patrocinam a desordem e o desrespeito às pessoas e às instituições do Estado, possam continuar a desfilar a raiva que nutrem pelo facto de não serem poder e de o quererem conquistar a qualquer preço, nem que para isso se tenha de apelar aos amigos externos para que testem aqui o que de mais moderno tenham em meios de destruição de vidas e de infra-estruturas.
Essa falta de ética na política, essa constrangedora falta de senso patriótico e a convicção de que nada de bom têm para nos oferecer, a não ser essa inverosímil falta de sentido de Estado e de desrespeito aos reais sentimentos nutridos pelo nosso povo (porque é visível que não têm nada de bom para nos apresentar, não têm capacidade criativa e muito menos vocação governativa), fazem com que, no estrito respeito pela minha consciência nacionalista e pelo que contribuí para que tivéssemos a Angola que hoje temos, venha, uma vez mais, a terreiro para denunciar o que me foi dado a saber sobre algumas orquestrações que têm vindo a ser maquinadas pelo Bloco Democrático.
Recordem-se que em Julho de 2010 denunciei o que estava inscrito nas Teses que estavam a ser preparadas para o II Congresso da Juventude do meu Partido, a JURA . Passado um ano não retiro absolutamente nada, porquanto está provada a sua veracidade e se dúvidas subsistirem comparem o comportamento e as atitudes de alguns dos dirigentes actuais e o que está escrito naquele texto, cuja cópia entreguei à Direcção desse Jornal.
Não reconheço, em mim, capacidades outras que não a de ser capaz de interpretar o que leio e de fazer algumas deduções lógicas. Adivinhar não é, nem nunca foi, o meu forte. Se fosse, teria redireccionado a minha trajectória política há muito mais tempo.
Mas devo, aqui e agora, relembrar duas passagens daquelas “teses” apenas para avivar a memória dos que pretendem tapar o sol com a peneira e facilitar a percepção do que direi a seguir:
1 – A JURA projecta como oportunidades, a “criação de factos” e/ou “o aproveitamento de situações que ocorram no país”, tais como “eventos políticos, sociais, económicos, culturais, desportivos, académicos, religiosos e naturais” (devem querer referir-se a calamidades de qualquer tipo), para “desgastar por todos os meios a imagem do Presidente da República”, “transferir o foco de contradições UNITA/MPLA para o Povo/MPLA, alimentando e acirrando contradições sociais e económicas entre o MPLA/Governo e o povo”, “mediante a propagação” de “denúncias permanentes” do “carácter fraudulento das eleições de 5 e 6 de Setembro de 2008, o golpe jurídico-constitucional de 21 de Janeiro de 2010” e a “ilegitimidade democrática do Presidente da República”, incitando a população a “perder o medo de manifestar-se”. Lembram-se?!
2 – “Mobilização e enquadramento político de membros e dirigentes de partidos políticos, igrejas e outras associações extintas pelo sistema” e a “cooperação com todas as forças, movimentos sociais e políticos ávidos da alternância do poder”. Sobre esta questão reitero que: “Pensar que participei no processo de libertação e na luta pela democracia e ver o Partido – UNITA – continuar a agir como um “gang de malfeitores”, é algo que me constrange sobremaneira”. Enfim… Lembram-se?!
Pois bem, a questão é que, de facto, a UNITA tem vindo a arregimentar para o seu lado os ex-FPD (hoje Bloco Democrático) usando-os como capa e pedra de arremesso, potenciando a sua capacidade inata para a crítica fácil e despudorada e a sua reconhecida capacidade para explorar tudo quanto de menos bom possa acontecer na acção governativa, seja por culpa dos actores políticos que estão no exercício do poder ou por fenómenos imputáveis à natureza. (Seria engraçado ver o Dr. Justino culpar o Executivo pelo facto do satélite ter caído no nosso território. Graças a Deus e para azar daquele político, o engenho caiu em outras paragens. Que alívio para o Executivo).
Mas o Bloco Democrático não foi de modas e, alinhando na estratégia global, inscrita nas teses da UNITA, criou, antecipadamente, um “Gabinete de Crise” chefiado pelo seu Presidente, Justino Pinto de Andrade, coadjuvado por Filomeno Vieira Lopes, cuja missão essencial é: estabelecer contactos com os demais Partidos Políticos da Oposição, entidades internacionais, amnistia internacional, órgãos de apoio aos refugiados, bem como promover a participação de diferentes grupos nas manifestações a realizar.
Qual a intenção? Então … dizem que nada têm a ver com a organização das manifestações e têm necessidade de promover a participação de pessoas? Com que objectivo?
Continuemos. A coordenação do Gabinete será apoiada por diferentes grupos. Desde logo por uma Comissão de Relações Institucionais (RINS), com a mesma chefia e as mesmas tarefas, ou seja, Justino Pinto de Andrade e Filomeno Vieira Lopes.
A Comissão de Comunicação (INFOCOM), integrada por Manuel Victória Pereira, João Amaral, Cláudio Fortuna e Branquima Afonso Kituma, tem a incumbência de: fazer colecta de informação, emitir boletins diários, convocar conferências para propagandear a preparação ou apresentar os
resultados das manifestações (criando factos ou denunciando a acção das forças policiais, culpando o regime por tudo quanto aconteça), produzir relatórios de presumíveis ocorrências, alimentar o facebook e o youtube, criar artigos para divulgação em jornais e criar histórias e factos, sempre que possível, com presos e suas famílias.
Significa isso que eles vão instigar alguns jovens para se rebelarem contra as instituições e depois fazê-los surgir na imprensa como mártires? Será que já perderam a noção do valor da vida dos jovens que eles põem, deliberadamente, em risco? Será que as famílias estão avisadas do “uso” que estão a dar aos seus filhos?
Então qual a diferença entre estes senhores do Bloco Democrático e os Numas, Libertys, Muzembas, Chilingutilas, Chiwales, Samakuvas e outros? Alguns destes ainda sabem o quanto nos custou fazer a guerra e perdê-la. E estes senhores do Bloco Democrático? Sabem mesmo o quanto sofremos para poder estar onde estamos e dar alguma tranquilidade às nossas famílias?
Sabendo do que estão a preparar para os nossos filhos e netos, criaram uma Comissão de Apoio Jurídico (APOJUR), integrada por Luís do Nascimento, Nelson Pestana “Bonavena”, Lisdália Paula e David Mendes (Mãos Livres – antigo dirigente de um Partido Político).
Mandam os nossos jovens para a rua (não vi nenhum deles na manifestação e, muito menos, a promoverem a arruaça que mandaram realizar) e depois, se tiverem problemas com as autoridades, surgem os salvadores da pátria.
Não está na hora da própria Ordem dos Advogados posicionar-se em relação a esses seus integrantes que põem em causa a imagem e credibilidade da classe e vilipendiam os valores humanos e os deveres de profissão? Para que serve a Ordem? Ou será que devemos entender a Ordem dos Advogados apenas como mais um sindicato corporativo cujo fim se delimita na defesa de direitos e interesses dos representados? Não é esse o meu entendimento. Por isso mesmo, reclamo uma maior intervenção da Comissão de Ética daquela Instituição. Estou certo ou errado?
Para concretizar o atrás dito, o Bloco Democrático criou também uma Comissão de Relação com os Familiares daqueles que tiverem problemas com as autoridades. É coordenada por Francisco Guedes, e segundo eles, contactar as famílias ajuda a moralizá-las e contactar os presos permite alimentar a informação pública, dando a imagem de que se tratam apenas de vítimas do regime.
Até quando as nossas famílias se vão deixar manipular por gente que põe, sem qualquer tipo de sentimento que não seja o do simples aproveitamento da sua ingenuidade, a vida dos seus próprios entes em risco? Até quando?
A máscara do Bloco Democrático caiu definitivamente com a criação da Comissão de Mobilização, integrada por João Baruba, Pedro Candungo e Adão Ramos, cuja missão principal é arranjar jovens disponíveis para aderir às arruaças e propor acções a realizar no âmbito da tentativa de descredibilização da figura do Presidente da República e do seu Executivo.
Para dar mais brilho à sua acção desestabilizadora, o Bloco Democrático criou uma Comissão de Apoio às Cadeias (APOCA). Julgo que queriam dizer “aos Presos”, porquanto a sua função principal é encaminhar comida e livros aos detidos e organizar grupos de visita para pressionar os órgãos do Estado, na tentativa de demonstrar a existência de arbitrariedades, desrespeitando, por completo, todos os regulamentos e regras que existam naquelas instituições prisionais.
Ou seja, o próprio Bloco Democrático, sabendo da intenção com que promove as arruaças, criou todo um quadro organizativo para minimizar os efeitos nefastos da sua acção em relação àqueles que usam para os seus fins macabros.
Com que moral estes senhores se arrogam ao direito de surgir como defensores de direitos humanos quando eles usam jovens inocentes e desprovidos de senso político, para seus fins desestabilizadores?
Com que moral o senhor Justino Pinto de Andrade e os seus seguidores pretendem dar lições de democracia e de respeito pelos nossos concidadãos quando eles próprios, sem um mínimo de sentido humanitário, orientam jovens para destruírem bens públicos e de outros cidadãos que nada têm a ver com a sua raiva desmedida e o seu incontido desejo de um dia integrar o poder, qualquer que seja o preço a pagar? Com que moral?
O quê que diferencia o comportamento do senhor Justino, do Numa ou do Makuta
Nkondo? (que nunca vi nos mais de trinta anos que estou na UNITA, nem sei como surgiu como Deputado e a fazer ameaças que nos fazem lembrar os piores momentos da nossa trajectória. Aliás, espero bem que se continue a pressionar para organizarmos o próximo Congresso e resolvermos, definitivamente, algumas questões. Gente que não nos conhece, não sabe o que fizemos pelo país e suja o nosso passado, deve ser tirado a favor de outros que conhecendo bem o nosso ideário, possam fazer sobreviver o que de bom ainda temos).
Mas, então qual é a diferença? Na minha opinião, nenhuma.
O senhor Justino Pinto de Andrade, pessoa pela qual, mesmo sem conhecer, sempre nutri algum respeito, deixou de ser, pelo menos para mim, o analista político com alguma qualidade, embora nem sempre partilhasse dos seus pontos de vista, pela forma parcial e obstinadamente negativa como conduzia muitos dos seus raciocínios, para passar a ser mais um makutazito, sem qualidade e sem capacidade de se impor pela positiva.
É triste ver como um patriota fervoroso na luta contra o colonialismo, se transformou num politiqueiro medíocre, despojado dos valores mínimos capazes de congregar vontades em torno de um projecto maior, onde o exercício democrático assenta na escolha popular e o poder político se conquista nas urnas. Que triste…
Permitam-me o desabafo: “Senhor Justino Pinto de Andrade, para se ser democrata não basta parecer”. Ajude-se a si próprio. Repense nas prioridades para a melhoria da vida do nosso Povo e logo perceberá que a arruaça, a desordem e a confusão só servirão aqueles que, com isso, podem continuar a encher os bolsos com cifrões do nosso sangue.
Com o reforço da nossa acção política, enquanto oposição, e a nossa união em torno do processo democrático, estaremos a contribuir mais e melhor em prol de Angola e do nosso povo.
Sabemos que não ganharemos as próximas eleições, mas também sabemos que, unidos, podemos reduzir significativamente, o fosso que nos separa daqueles que hoje exercem, por direito, o poder político no nosso País.
Sabemos das diferenças que nos separam, mas temos de ser capazes de perceber que os ventos árabes jamais soprarão em Angola e que, não obstante isso, a viragem é possível.
A democracia é uma dádiva conquistada e é o único rumo capaz de nos permitir contribuir para termos amanhã, a Angola dos nossos sonhos de sempre.
Espero, sinceramente, que o Pedro Seke, a Jeaneth Kalema e o Cláudio Fortuna, não precisem mais de perder tempo com listas de indivíduos presos por desrespeito ao próximo. Que os seus piquetes sejam usados para introduzir na internet informações sobre coisas boas que o Bloco Democrático tenha feito, ou queira fazer, a favor de Angola e do nosso Povo, incluindo sobre manifestações pacíficas para reivindicação de direitos constitucionalmente protegidos.
Fica a minha promessa de voltar, dentro de dias, para trazer outros factos que permitam um melhor conhecimento sobre a insurreição com que se pretende brindar ao nosso Povo.
Continuo a apelar às Instituições do Estado para que levem a sério as denúncias que vou fazendo. Conheço e respeito o serviço de inteligência, mas é bom perceber que a nossa experiência de vida pode constituir-se num filão de segurança e de prosperidade. Os que me conhecem do passado, sabem bem do que falo.
A bem de Angola.
24 de Setembro, 2011